Bem vindos!

Conta-me histórias é um blog onde vos mostro alguns dos meus trabalhos e onde podemos falar de tudo um pouco. Apresenta certos assuntos que acho relevantes e interessantes, sempre aberta a conselhos da vossa parte no sentido de o melhorar. Obrigado pela vossa visita. Fico à espera de muitas mais.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A formiga no carreiro anda em sentido contrário

Se duvidas havia que o programa Ídolos tem elementos do júri tendenciosos e onde não fica explicito por que critérios são avaliados os concorrentes, ontem ficou claro como água que assim é. Uma concorrente, de seu nome Sandra, interpretou, do meu ponto de vista, muito bem, a canção de Zeca Afonso "Trás um amigo também". Sem tentar imitar o original,  deu-lhe alma ao interpretá-la à sua maneira, acompanhando à guitarra. Acho louvável, que uma pessoa de 24 anos apenas, pegue numa musica que corresponde a tempos tão marcantes da vida do país e tenha tido a coragem de fazer a sua própria interpretação, dando-lhe um tom fresco e actual. Esta não foi de todo a opinião do júri do Ídolos. Sandra foi acusada de ser uma hippie-chique (seja lá o que isso for); perguntaram-lhe se queria seguir carreira de cantora ou ir salvar baleias (não sei bem qual a relação); acusaram-na de ir ali cantar musica popular portuguesa e não música pop; por fim ainda lhe deixaram o recado de evitar esquerdismos. Um dos jurados até deixou nas mãos de Sandra a hipótese de votar por ele (tipo Pilatos, lavando as suas mãos). Tudo isto me leva a levantar várias questões:
- O que pretendem que cante um ídolo português?
- Como querem que se cante em português, se não se pode cantar musica popular, de intervenção ou outras?
- Se estamos em Portugal, porque não um Ídolos só com musica portuguesa?
- Que é feito da criatividade do país, quando a televisão portuguesa precisa de pagar balurdios para comprar formatos de programas estrangeiros, tendo tão bons artistas em Portugal?
- Por que critérios se regem os jurados para passar ou chumbar um concorrente?
Sandra, depois de levar com um churrilho de criticas sem fundamento, lá passou. Na minha opinião, de outro modo não poderia ser, visto que merecia passar. Mas, senhores jurados, se a intenção de a passarem foi para não serem chamados de tendenciosos (ou pior), já foram tarde. Em democracia temos o direito de nos expressar como entendermos e penso que os candidatos a ídolos de Portugal não vão ao programa para serem julgados pelas suas tendências politicas, mas sim pela qualidade da sua voz e presença em palco. Tristemente, cada vez me surpreendo menos com este tipo de coisas, visto vivermos numa democracia podre, onde tudo podemos desde que seja baixinho ou calados.
Quanto a ti, Sandra, ontem foste sem duvida o meu ídolo português. Mantiveste a calma mesmo estando a ser criticada injustamente, foste mais bem vestida que alguns dos elementos do júri e mostraste o que eras sem medo das consequências. Se é o que realmente queres, segue a musica, mas não mudes quem és só porque te dizem como pensar ou agir. O que mais há em Portugal é projectos de doutores e carneiros que seguem o rebanho mesmo no sentido do abismo. Ás vezes à que ser "a formiga que anda no carreiro em sentido contrário".

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Quem quer ser policia?

Imagine um emprego onde recebe um ordenado de 600 euros. Desses 600 euros, tem que pagar a sua farda. Para ganhar dinheiro extra, pode fazer gratificados nos seus dias de folga, mas por mais que os faça, pode passar anos para os receber. Esta é uma profissão de risco, por isso, sempre que sai de casa para o trabalho, nunca sabe se volta ferido ou mesmo sem vida. Depois de muitos anos de luta nesta profissão arriscada e difícil, eis que chega a reforma. Mas nem assim pode respirar de alivio. Se por exemplo, um vizinho implicar consigo e fizer queixa de si, pode incorrer num processo disciplinar, que poderá levá-lo a perder a reforma. Se um policia , ao desempenhar as suas funções, atirar sobre um criminoso e o matar, pode perder o emprego e ter que pagar indemnizações aos familiares. Se o contrário suceder, temos pena do policia e por bom comportamento ou falta de idade do criminoso, soltam-no prematuramente ou nem o prendem.Muitas vezes a coisa corre bem. Os policias apanham os criminosos e fazem cumprir a lei. Todos ficamos mais seguros, pelo menos por umas horas, até os tribunais decidirem soltar os ladrões, violadores ou assassinos por motivos alheios à nossa compreensão. Mesmo assim, lá vão eles todos os dias para o seu posto de trabalho, sendo as primeiras pessoas a quem ligamos em caso de aflição, sendo os primeiros a dar o corpo e a alma ao serviço da população. E por muitos anos que passem, muitas vezes as suas carreiras não evoluem. Os riscos são os mesmos, o salário também e o perigo do suicídio ou o de pular o muro e passarem eles próprios a criminosos, vai aumentando. Quem tenta construir um país em cima de tais alicerces, só poderá ver o desabamento de estruturas que foram erguidas em areias movediças.
Tenho pena dos 50 policias que foram destacados para vigiar a manifestação de hoje, no Terreiro do Paço. Muitos deles, se não todos, com vontade de se juntarem aos colegas na defesa dos seus direitos, mas mais uma vez cumprindo o seu dever de proteger a população, mesmo contra a sua vontade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tempo para que te quero

De que nos serve o tempo
Que nos faz correr com pressa de chegar
Que chegando a lugar nenhum
Nos faz implorar para que ande para trás.
Que nos sufoca sempre que se esgota
Implorando por mais um pouco
Como se de ar se tratasse
Somos prisioneiros do passado
Do bom que soube
Da dor que deixou
Somos escravos do presente
Maldizendo a vida que temos
Fugindo do passado para o futuro
Com medo de nos perdermos no agora
Somos dependentes do futuro
Optimistas esperando melhoras
Pessimistas ansiando a morte
Todos com o intuito de calar a dor
O tempo, esse ri-se de nós
Pobres dos Homens que não entendem
Que não são eles que são do tempo
Mas sim o tempo que lhes pertence

Diz-me de onde vieste

Para muitos de nós é mais fácil pensar que nascemos, procriamos e morremos. Para outros, custa a acreditar que a vida seja apenas esse percurso simples e recto, levando-nos muitas vezes a indagar sobre o verdadeiro significado do caminho que percorremos. Seja qual for o seu caso, de certo que a certa altura da sua vida parou para pensar o que faz aqui, como cá chegou e o que acontecerá após a morte. Ninguém tem uma resposta concreta a estas questões, por isso apenas nos podemos valer dos nossos instintos, daquilo a que nos propomos a acreditar e muitas vezes de histórias que, embora não possamos explicar, acontecem nas nossas vidas ou perto de nós. A história que vou contar aconteceu com uma amiga minha, Joana. Joana era uma céptica e sempre que eu lhe falava nestes temas, nunca me dava saída, dizendo sempre que não acreditava em nada disso. Foi por isso que muito me admirou que viesse falar comigo sobre o que sucedia com a filha. O que me leva a pensar que existe muita gente que diz não acreditar, mas na realidade apenas têm medo do desconhecido. Com ar preocupado, contou-me que a sua filha de 4 anos se levantava todas as noites de madrugada, se dirigia ao quarto da mãe para a acordar e depois deambulava pela casa de olhos arregalados, a relatar que o candeeiro estava a abanar, olhando pelas janelas dizia que estava tudo a ruir, que o chão tremia. O pânico no seu rosto era evidente, mas o mais curioso era que enquanto relatava o que via, ia dizendo à mãe para ter calma, que estava tudo bem. Joana ficava desesperada, sem saber o que fazer. A criança ficava excitada e cansada, adormecendo por fim quase de manhã, e sempre ao colo da mãe. A situação estava a ficar insustentável. Já tinham tentado tudo, vários médicos que submeteram a filha a um batalhão de exames, tanto à cabeça como ao coração. Até com um psicólogo falaram, mas sem sucesso. E as noites de pânico continuavam. Foi por isso que Joana, desesperada, me perguntou se não conhecia ninguém que a pudesse ajudar a nível espiritual. Encaminhei-a a uma pessoa de minha confiança que trabalhava com regressão. O que descobrimos foi extraordinário. Ao que parece, a filha de Joana, tinha vivido na altura da guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995. Tanto ela como a sua família morreram dentro de uma casa que foi bombardeada. A menina assistiu a tudo, tendo partido neste cenário de horror, com o chão a tremer, prédios a ruir, tudo a abanar. Visto que voltou a encarnar em 2000, trazia ainda presente na sua memória episódios da sua vida anterior, o que era desplotado quando atingia um certo nível de ondas cerebrais ocorridas durante o sono profundo. No seu intimo, a filha de Joana sabia que a sua nova mãe nunca poderia saber o que se passava e por isso, embora precisasse do seu apoio e conforto, tentava acalmá-la. Depois de várias sessões de terapia regressiva, as noites começaram a ser calmas, como se nada daquilo tivesse existido. Claro que Joana deixou de ser céptica em relação a este assunto. Quanto a mim, apenas veio confirmar aquilo em que, mesmo sem provas concretas, acredito como certo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Nova arma nas escolas

Li hoje uma noticia no jornal que dava conta de uma zaragata entre dois alunos do Colégio de Santo André, na Venda do Pinheiro, em Mafra. Ao que parece um dos miúdos atirou uma mochila ao outro, provocando-lhe um traumatismo craniano, que só foi detectado pela mãe deste quando o foi buscar à escola e, ao perceber que o filho se estava a sentir mal, o levou ao hospital.  Esta história serve apenas de introdução ao assunto que vos exponho hoje. Isto só prova que os nossos filhos carregam peso a mais todos os dias nas suas mochilas. O que cómicamente (ou não) me leva a pensar que andam armados de um poderoso meio de defesa em caso de um qualquer ataque à sua integridade física. Já não bastavam as armas de fogo e as conhecidas ponta em mola, agora temos também as mochilas. Só falta saber se têm força para arremessar com ela. Quando tanto se fala em obesidade infantil, em educação sexual nas escolas,  e outros temas relacionados com a saúde das nossas crianças, pergunto eu: para quando cacifos nas escolas para os alunos?  E já agora! Num país em que cada vez mais se fala de ecologia e de reciclagem, porque é que todos os anos os livros são diferentes? Quantos livros usei eu de familiares que andavam uns anos à minha frente. E que bem que sabia à carteira dos meus pais, que em vez de comprarem mais livros, apenas tinham que arranjar uma boa borracha e apagar os exercícios já resolvidos. Parece-me a mim que todos ganham com esta opção. Como diz o anuncio: "as crianças ganham, os pais ganham, o planeta ganha...". Quem de certeza não ganha tanto são as editoras, mas com esse mal podemos nós bem.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Kiwi, o mulherengo do pomar

O kiwi é um fruto oriundo da China, mas já se vê muitas plantações deste fruto cá em Portugal. Conhecido como portador de uma alta quantidade de vitamina C, o kiwi nasce de uma planta trepadeira dióica. Não, dióica não é um palavrão nem um erro ortográfica. Dióico significa que é uma planta de flores masculinas e femininas em indivíduos diferentes. Isto é, existem nesta espécie plantas totalmente femininas e plantas totalmente masculinas, o que significa que têm que ser plantadas em conjunto para assim se reproduzirem. E aqui começa o curioso da questão; é que descobri que o kiwi é bígamo. Ou no caso dos kiwis que não contraíram matrimónio, é um mulherengo de primeira apanha. Se não, vejamos: dizem os entendidos que um pomar de kiwis deve ter um mínimo de 9 plantas, onde 8 serão femininas e a restante masculina. Dizem também que a planta masculina deve ser plantada no meio das outras, servindo assim de polinizadora. Outra curiosidade é o facto de a planta masculina dar flor fornecendo o polén  e a planta feminina dar flor fornecendo os frutos.  Esta planta pode durar cerca de 50 anos e é muito produtiva, podendo gerar 1000 frutos por planta. O kiwi é extremamente benéfico para a nossa saúde; não tem colesterol, tem propriedades anti oxidantes que previnem o envelhecimento das células e a formação de rugas na pele,  reduz o risco de tumores, tem efeitos anti-cancerígenas e anti-inflamatórios, reduz o risco de doenças artériocoronarias e fortalece o sistema imunitário. Os primeiros frutos desta planta ocorrerão no terceiro ano de vida.
 Dito isto, se o kiwi fosse um homem seria um felizardo. Primeiro teria uma vida sexual extremamente activa e sempre rodeado de pelo menos oito mulheres. Depois, não precisava de trabalhar quase nada, visto que carrega com florzinhas com polén enquanto a mulher carrega com os filhos. Nem tinha que se dar a muito trabalho sexual, pois a polinização é feita elas abelhinhas e outros insectos. Em seguida, um homem com esta vida, também não precisava de durar muito mais que 50 anos, visto que deixava uma família de 1000 descendentes. Nunca teria problemas de saúde durante a sua vida, com tanta vitamina, sem colesterol e, obviamente sem stress. Na perspectiva feminina, a única coisa relevante é o facto de gozarem de 3 anos sem filhos, mas com muita saúde e tempo livre para a gozar, pois o seu companheiro teria que dividir o tempo com outras 7 mulheres. 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Nem só de pão vive o homem

Todos os dias passava pelo átrio daquela igreja e via à porta, sentado nos degraus um homem de meia idade, barba e cabelo comprido, roupa gasta e suja, evidenciando a sua condição de sem abrigo. Muitas vezes dei por mim a pensar o que teria levado aquele homem, como tantos outros, a chegar aquela situação. Onde estaria a sua família? Será que tinha família? E se a tinha, que conjunto de situações poderiam ter levado aquele homem a viver na rua, dependente das esmolas alheias e sujeito aos maus tratos duma sociedade que condena pessoas que não têm vidas ditas normais? Passei por ele vezes sem conta e sempre que o fazia, sem saber porquê tinha vontade de o abordar. De pelo menos lhe perguntar o seu nome, de saber se existia algo que eu pudesse fazer para o ajudar. Não como uma "caridadezinha" que me abriria as portas do céu, mas sim como um ser humano que reparou no sofrimento de outro, não podendo manter-se indiferente a tal. Estávamos em Janeiro, num dia que era já noticia nos jornais como o dia mais frio do ano. Mais uma vez, ao regressar do trabalho, encontrei o homem, como sempre, sentado nas escadas da igreja, esfregando as mãos cheias de nada, esperando por coisa nenhuma. Dessa vez, perdi a vergonha e o medo de ser mal interpretada e dirigi-me a ele. Sem saber muito bem como o abordar, perguntei-lhe se gostaria de me acompanhar à pastelaria em frente, a fim de comer alguma coisa. Disse-me que gostaria muito, mas que não lhe era permitido entrar na pastelaria, sob pena de ser corrido, devido ao seu aspecto. Reparei que, por de trás da barba e cabelo compridos se escondiam uns enormes olhos azuis, que teimavam em fixar o chão sem me encarar. A vergonha era um traço visível na sua expressão. Mas mesmo no estado mal tratado em que se encontrava, conseguia perceber que era um rosto bonito. Disse-lhe que voltaria e caminhei para a pastelaria. Quando regressei para junto do homem com o saco que continha sopa, sandes e sumo, fui recebida com espanto, como se o facto de eu voltar e ainda por cima com uma refeição para si, fosse uma coisa impossível de acontecer. Ao pegar no saco, olhou-me nos olhos pela primeira vez e chorou. Disse - "Muito obrigado! Não acredito que se tenha dado a todo este trabalho por minha causa. " Perguntei-lhe como se chamava. Respondeu que se chamava Rogério. Depois,...bem... depois foi quando aconteceu o que ainda hoje não consigo explicar. Senti-me subitamente invadida por uma necessidade enorme de abraçar aquele desconhecido. Fiquei emocionada com o facto do meu acto, sendo tão pequeno e banal, o mínimo que alguém faria, pudesse ter tido um impacto tão grande em Rogério. Sim, abracei-o, um desconhecido que precisava desesperadamente de um abraço, que estava sujo e rendido ao seu triste destino.  E sabem que mais, senti naquele momento que ganhei mais do que aquilo que dei. Não sei explicar porquê, mas foi com esse sentimento e com algumas palavras de conforto que deixei Rogério. Quando penso neste episódio, pergunto onde estará ele neste momento? Será que fez tanta diferença para ele como fez para mim aquele abraço? Será que por breves momentos, fomos apenas dois seres iguais, sem preconceitos, apenas unidos pela necessidade de dar e receber carinho e compreensão? Seja como for, para mim foi com certeza uma das experiências mais marcantes da minha vida. Foi nesse momento que o provérbio "nem só de pão vive o homem" fez sentido para mim.