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domingo, 28 de julho de 2013

ESTÁ NA HORA DE DEIXAR DE SER VITIMA



Na minha família materna somos muitas mulheres. Dei-me ao trabalho de contar e descobri que somos 12. Uma dúzia de fêmeas com idades compreendidas entre os dois e os oitenta anos. Talvez seja carma, vicio ou esteja impregnado nos genes, mas as mais velhas não têm sido felizes nas suas relações. Todas elas sem excepção uniram-se a parceiros que as controlaram a vida toda ou quase toda. Digo quase todas, visto que algumas se separaram antes de enlouquecer e uma delas desprendeu-se deste carma através da viuvez.  
A violência física não vem à história, mas a psicológica é prato diário. Desde amantes, maus tratos verbais, humilhação, constante mal dizer das suas atitudes ou escolhas, promoção do isolamento de todas as pessoas que se tentam aproximar, mentiras ou meias verdades que matam aos poucos, tudo serve para criar a "esposa perfeita e dedicada". As que se mantêm nesta amalgama de dor e sofrimento são os espelhos das que se conseguiram libertar de todo este jogo baixo e desigual. Se quisesse saber o que o futuro me reservava ao perpetuar uma relação assim, bastava-me olhar para elas. Se em tempos a desculpa de se manterem presas a estes homens era "os tempos serem outros", hoje a desculpa é "gosto tanto dele" ou "será que fiz tudo o que estava ao meu alcance". 
Cheguei à conclusão, por experiência própria, que não existe uma altura certa ou errada para resgatar o que resta da nossa auto estima e dar um murro na mesa. A altura certa é tão somente aquela onde percebemos o mal que nos estão a fazer, que não merecemos tal tratamento e que está na hora de mudar de vida. 
Se custa? Custa. Custa horrores, pois por mais ajuda externa que tenhamos, é algo que temos que fazer sozinhas. Assim como morrer e nascer, as grandes decisões da nossa vida são tomadas assim: de repente e completamente sozinhos. 
Podem usar-se de todas as desculpas para não sair duma situação de dor extrema como esta: os filhos, o amor que ainda sentem, as contas para pagar, para onde ir, será que fiz o que estava ao meu alcance para isto dar certo, não tenho forças, só me apetece morrer, etc.
Vamos falar sobre estas desculpas que, a bom ver, não passam disso mesmo:
- os filhos: Nenhum filho gosta ou crescerá saudável e feliz ao ver o pai ou a mãe em sofrimento. Tome mais o partido de um ou de outro, não serve de desculpa. A nossa missão é encaminhar os filhos através do amor e do exemplo. Ora, uma mãe ou um pai infeliz e sempre nervosa(o) não está a dar o melhor de si. 
- o amor que ainda sentem: Será que não estão a amar mais o outro do que a vocês mesmos? Isso não é amor incondicional. Isso é burrice e pode ser fatal. Amor a mais também mata e nem sempre é o suficiente para mudar o comportamento do outro. Pelo contrário: às vezes é a ponte que liga ao abuso e ao domínio do outro sobre nós.
- as contas para pagar: Pense que se morrer amanhã, as contas continuarão por cá. O mundo não para com a nossa morte. Devagar se vai ao longe. Será difícil, mas não impossível. Tal como uma cura, tem que se levar um dia de cada vez.
- para onde ir: Esta é diferente para cada um, mas existe sempre um cantinho para recomeçar. Não será cómodo ou luxuoso, mas para inicio de vida, pode chegar um quarto ou uma casinha pequena. O mais importante é chegar ao final do seu dia e ter a paz de espírito há muito perdida. 
- será que fiz o que estava ao meu alcance para isto dar certo?: Responda sinceramente: há quantos anos se encontra nessa situação? Se não foram anos, os meses que vive nesse sistema não serão os suficientes para perceber que ninguém muda? Se são anos, quantos mais está disposta a dar, em prol de uma pessoa que não lhe dá o justo valor? Se essa pessoa não a acha merecedora, porque não a deixa partir? Pode ser que alguém ache o contrário. Pode ser que você se ache digna de uma vida diferente.
- não tenho força: Esta é a que mais gosto. Então a minha amiga não tem força para se levantar e tomar as rédeas da sua vida, mas tem força para aturar desaforos e maus tratos diários? Vamos lá falar de prioridades. Quando chegamos a esta desculpa, trata-se de um jogo de "mata ou morre". Se não tem forças, arranje-as. Há muita gente que precisa de si no mundo. Mesmo que pense o contrário. Vamos lá a deixar de ser preguiçosos e a mudar o rumo da vida. Pense no ultimo dia em que se recorda de ter sido feliz. Volte a esse dia e recarregue as baterias. Tome essa pessoa de outros tempos como um ídolo que deve e tem de seguir. Embora diga que isso já foi há muito tempo, pense que hoje tem mais aprendizado do que naquele tempo. Isso é uma mais valia. Hoje já é mais difícil de se deixar enganar. 
- só me apetece morrer: Esta é uma maneira prática de ver as coisas. Doi tanto que se calhar é melhor morrer para que a dor passe. Acredite no que acreditar, como pode ter a certeza de que depois da morte a dor passa? E vai desistir assim? Sem dar luta? Porquê? Quem tem o direito de a empurrar para o abismo e ainda ficar por cá a rir-se da sua pouca sorte? Tirando a própria vida apenas vai dar força à convicção de quem por tanto tempo a(o) tem chamado de fraca(o). Pois fraco é aquele que precisa de humilhar para se sentir superior. Fraco é aquele que bebe para "esquecer". Fraco é aquele que não consegue levar uma vida de amor e tem que amarfanhar os que o rodeiam para se fazer notar. 
Por isso chega de desculpas. O dia da mudança só peca por tardio. Já devia ter acontecido ontem.

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